Construção é um exercício de frugalidade e compromisso. Para ver seu trabalho realizado, os arquitetos têm que conciliar as demandas dos empreendedores, empreiteiras, clientes, engenheiros - às vezes até mesmo os governos. As concessões resultantes deixam frequentemente os arquitetos com o ego ferido e um resultado arquitetônico que não os satisfaz. Embora esses arquitetos sempre façam o máximo para corrigir quaisquer problemas, algumas disputas são tão vorazes que o arquiteto sente que não têm escolha a não ser abrir mão de seu próprio trabalho. Veja, a seguir, seis exemplos notáveis em que isso aconteceu:
1. Ópera de Sydney, Sydney, Austrália
Embora seja atualmente considerado um dos exemplos mais emblemáticos da arquitetura do século XX, a deslumbrante Ópera de Sydney, de Jorn Utzon, surgiu em meio a um amargo conflito entre o governo de Nova Gales do Sul e Utzon. O relacionamento de Utzon com o Ministro de Obras Públicas de Sydney, Davis Hughes, foi extremamente controverso. Quando Utzon se recusou a alterar suas intrincadas janelas de madeira, corredores e assentos, Hughes rotulou o arquiteto de "sonhador pouco prático". À medida que a batalha entre visão e orçamento se agravava, Utzon resolveu abandonar o projeto. Ele nunca mais voltou à Austrália e nunca chegou a ver a Ópera concluída.
2. Ópera de Copenhague, Copenhague, Dinamarca
O arquiteto dinamarquês Henning Larsen não sabia onde estava se metendo quando decidiu projetar a Ópera de Copenhague para o cliente Maersk McKinney Møller. Møller, co-fundador do conglomerado marítimo Maersk, financiaria inteiramente o edifício de US $ 500 milhões, dando-lhe o controle total sobre Larsen. Os dois repetidamente brigaram por causa dos detalhes do projeto. O elemento mais polêmico foi a insistência de Møller em fitas metálicas da fachada, estranhamente parecidas com uma grade de radiador de um carro americano de meados do século passado. Larsen ameaçou até mesmo parar o projeto, mas nunca o fez, temendo um processo de Møller. Quando o edifício foi inaugurado em 2004, Larson chamou o projeto de "um compromisso fracassado" que se assemelha a "uma torradeira", e antes de sua morte, em 2013, fez novas tentativas de se afastar do projeto, incluindo uma exposição de 2009 sobre a construção do edifício, intitulada You Should Say Thank You: A Historical Document about the Opera [Você deveria dizer obrigado: Um documento histórico sobre a Ópera].
3. Academy Museum of Motion Pictures, Los Angeles, Califórnia
Em 2014, Zoltan Pali, do escritório SPF Architects, de Culver City, renunciou à sua colaboração com Renzo Piano no novo Academy Museum, atualmente em construção junto ao LACMA em Los Angeles. O complicado projeto consiste, essencialmente, em um tearo esférico encaixado na parte de trás do reformado May Company Building de 1930, que Pali já estava encarregado de renovar quando Piano foi trazido o projeto em 2012. Quando Pali se afastou, o jornal The Hollywood Reporter descobriu um conflito interno entre os dois arquitetos, no entanto, este conflito foi negado pelo museu.
4. Schwartz Center for the Performing Arts, Ithaca, Nova Iorque
Esta peculiar estrutura foi o trabalho do famoso arquiteto britânico James Stirling e seu parceiro Michael Wilford. O que era para ser o edifício mais grandioso da Universidade de Cornell, acabou se tornando um amontoado de puxadinhos devido a inesperados aumentos de custos e alterações de projeto desastrosas. As dificuldades associadas à proximidade com um desfiladeiro significavam que o grande hall original precisava ser substituído por uma entrada lateral reduzida. O que era para ser um opulento revestimento de tijolo e calcário foi substituído por reboco e granito barato. O Schwartz se tornou um edifício confuso, subutilizado, com ambos os arquitetos expressando frustração e insatisfação com o projeto concluído.
5. Museu das Culturas, Milão, Itália
David Chipperfield exonerou-se de seu museu de US $ 60 milhões construído e Milão pouco antes de sua inauguração em 2015. Após o arquiteto ter expressado descontentamento com o piso de pedra usado devido a cortes no orçamento, uma batalha altamente divulgada foi iniciada. Quando o ministro da Cultura, Filippo Del Corno, insistiu que Chipperfield era pouco razoável para trabalhar em conjunto, o arquiteto respondeu afirmando que o piso transformou o edifício em um "museu de horrores".
6. Filarmônica de Paris, Paris, França
Também em 2015, o renomado arquiteto francês Jean Nouvel não só procurou afastar-se legalmente da mais nova sala de concertos de Paris, como também boicotou sua inauguração. "A arquitetura é martirizada, os detalhes sabotados", lamentou Nouvel em um editorial do jornal francês Le Monde sobre o edifício. Embora o projeto tenha sido elogiado por suas propriedades acústicas excepcionais, o exterior continua a ser uma interpretação torturante das intenções originais de Nouvel. O arquiteto estava tão perturbado que afirmou que seu cliente tinha um verdadeiro "desprezo pela arquitetura, pela profissão e pelo arquiteto do mais importante programa cultural francês do novo século".